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"Rútilo nada", Hilda Hilst

Miragem, muragem         José Antônio Cavalcanti         O conto “Rútilo nada” foi publicado originalmente pela Livraria e Editora Pontes, de Campinas, em 1993, ao lado de A obscena senhora D   (1982) e do conto “Kadosh” (1973). Na edição da obra completa de Hilda Hilst promovida pela Editora Globo, o organizador, o crítico Alcir Pécora, resolveu colocá-lo, após consulta à autora, no mesmo volume dos contos reunidos em Pequeno discurso. E um grande , lançado em 1977, ao lado de “Kadosh” e de Fluxo-Floema (1970), no livro Ficções . A própria autora deu ao novo conjunto o título de Rútilos (1) .         A narrativa tem início com um narrador em primeira pessoa num fluxo de consciência que, após desnudar o estado de espírito do protagonista, arremessa o leitor à cena dramática em que Lucius Kod, jornalista, filho de banqueiro, 35 anos, casado, pai de filha adolescente, entra em desespero por causa da morte do amante, Lucas, 20 anos, estudante de História e poeta. O
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"Fluxo", Hilda Hilst

O lugar hilstiano*             Hilda Hilst é uma autora sobre a qual a ação do tempo desperta uma crescente ampliação do interesse acadêmico. Essa afirmativa pode ser facilmente comprovada pelas inúmeras teses e dissertações a respeito de sua multifacetada produção: dramática, poética e narrativa. O aumento de pesquisas sobre a sua obra, no entanto, ainda não foi suficientemente forte para gerar uma bibliografia crítica capaz de nos aproximar de sua riqueza.     O presente trabalho investiga de que modo na narrativa de Hilst, lida com frequência sob a ótica do erótico, do filosófico, do hermético e do poético, podem ser percebidas marcas reconhecidas pela ecocrítica. Tal tarefa, à primeira vista,  parece extremamente ingrata, pois a prosa hilstiana subverte linguagens, escandaliza comportamentos, desarma apreensões críticas, violenta demarcações genéricas, parte sempre de um pensamento que capta a ausência, o nada e constrói-se sob o vazio; dele faz sua morada e dele, s

Recordações do escrivão Isaías Caminha, Lima Barreto

A inversão do olhar em Isaías Caminha 1. Introdução       A crítica tem sido unânime em considerar  Recordações do escrivão Isaías Caminha  um romance destituído de equilíbrio, opinião corroborada pelo próprio Lima Barreto em carta a Gonzaga Duque:           um  livro desigual, propositalmente  mal  feito, brutal, por  vezes, mas           sincero  sempre. Espero muito nele para escandalizar e desagradar (...)           hás de ver que a tela que manchei tenciona dizer aquilo que os simples           fatos não dizem, segundo o nosso Taine (apud Barbosa, 1981, p. 162).      No entanto, a compreensão desse desequilíbrio deliberado ocorre de modo diverso no autor e na crítica. Aquele, segundo os seus próprios termos, vê a literatura como a possibilidade de desalienação na formação da consciência, tomando-a claramente não apenas como complemento ao real, ornamento, constatação de sua lacunosa percepção, mas espaço de discussão dos principais problemas do temp