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Grupo escolar, Cacaso




Nos quatro cantos da cidade *


Nada representa mais a razão no interior da cidade do que o sistema escolar, verdadeiro motor a manter ativo o seu funcionamento, dando-lhe legitimação e condições de reprodutibilidade, mediante paradigmas de representação universal. O sistema escolar inclui os indivíduos no caminho percorrido pela humanidade, situando-os no que considera o ponto mais avançado, resultado de séculos de história. Há, consequentemente, um ordenamento, uma razão niveladora e universal a unificar os homens, conduzindo-os ao ponto mais avançado do pensamento e do desenvolvimento tecnológico, responsável também por suas formas sociais: cidadania, democracia, separação de poderes, representação política, liberdades individuais etc. A escola é o espaço sucessor do templo de um deus rebatizado de ciência, lugar de verdades inquestionáveis de uma ciência-razão soberana, projetado no rigor de uma construção iluminista, porém também lugar no qual o tempo permitiu à racionalidade realizar todo o seu programa de tal modo que essa realização alcançou, nas falhas, nos êxitos e nos limites da Razão, a percepção da inconsistência de proposições de verdades em um mundo cuja complexidade devora todos os modelos teóricos.

O segundo livro de Cacaso, ainda sob a assinatura de Antônio Carlos de Brito, toma um dos signos fundamentais do iluminismo como metonímia da cidade: Grupo escolar. Representa uma ruptura com os procedimentos adotados em seu livro inicial – apesar de incorporar alguns poemas escritos na mesma época –, movimento resultante de uma autêntica crise de criação, registrada na nota à primeira edição: nela o autor revela ter ficado cinco anos sem escrever um só verso, "desconfiando mesmo da poesia" (CACASO, 1997, 139), numa inquestionável demonstração de descontentamento com os rumos seguidos no livro de estreia.

É a partir dessa época (1974-1975) que Cacaso torna-se integrante dos grupos "Frenesi", com Roberto Schwarz, Francisco Alvim, Geraldo Carneiro, João Carlos Pádua; e "Vida de Artista", com Eudoro Augusto, Carlos Saldanha (Zuca Sardan), Chacal, Luiz Olavo Fontes. Esses grupos produziam suas próprias coleções, antologias e revistas. Mais tarde estabelece relações com os integrantes da "Nuvem Cigana", constituída por poetas mais jovens como Chacal, Charles, Guilherme Mandaro, Ronaldo Bastos entre outros (1). As transformações na poesia de Cacaso, além de corresponderem naturalmente às necessidades internas do autor, derivam não apenas da convivência com diversos poetas, porém de uma ação coletiva voltada para todas as artes.

O novo livro representa uma aproximação a temas e recursos utilizados por Oswald de Andrade. O universo escolar também foi utilizado pelo poeta do antropofagismo no título de um de seus livros: Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade. Em ambos, no entanto, mais do que emblema iluminista, a escola é um espaço no qual a geometria cartesiana da razão é desconstruída por uma escrita que inscreve em seus códigos a ironia constestadora, a alquimia dos desejos, a caligrafia do espontaneísmo e a tensão entre civilização e subjetividade.

Já em 1975, José Guilherme Merquior observava, ao analisar os novos poetas brasileiros, que

A antiepifania, a descelebração, o humor corrosivo (mais ácido que o de Alvim) em língua mesclada informam o verso de Roberto Scharwz e do Antônio Carlos de Brito de Grupo escolar. Dividido em ' lições' trocadilhescas (...) o livro alterna a sátira político-social e a polêmica literária, ao mesmo tempo em que embute ambas em andantes poéticos pontilhados por efeitos de distanciamento em estilo mesclado. (MERQUIOR, 1975, 18)
 
                                                                                                      
 O mesmo crítico, um pouco mais à frente, situa a poesia de Cacaso, numa notação precisa, "mais perto, no Brasil de agora, do salto mortal e do verdadeiro engajamento estético-intelectual, equidistante tanto do ornamentalismo, sofisticado ou não, da maioria da lírica de celebração quanto do realejo 'participante'" (MERQUIOR, 1975, 19).

A organização de Grupo Escolar, contudo, exibe as marcas de um planejamento crítico em relação ao ordenamento iluminista. A linguagem, se por um lado estabelece áreas de edificação poética nas quais determinados temas serão privilegiados, numa espécie de zoneamento textual, por outro inscreve os nomes de seus territórios de modo pervertido, desqualificando a nomenclatura oficial, convidando não a um local preciso, mas à perda. Por essa perspectiva, o adjetivo “trocadilhescas” atribuído às lições pode conduzir a uma leitura reducionista, mais próxima da irreverência inconsequente do que da ironia ácida com as quais foram efetivamente concebidas.

A primeira das quatro lições, denominada "Os extrumentos técnicos", erige a própria linguagem como área demarcada, central e primária em relação às demais, abordando as questões relacionadas à construção e à visibilidade do poema, O trocadilho no título expressa uma visão dessacralizante das técnicas ritualísticas da produção artística, fundamentadas na nobreza, beleza e raridade de seus meios de organização.

O poema inicial, "Cartilha" (CACASO, 2002, 142-143), funciona como uma declaração de princípios, na qual se explicita uma poética anticabralina. As cinco partes da composição, identificadas pelas letras vogais do alfabeto, quebram a seriedade do texto propositivo, sobrepondo uma camada de infantilização, liberadora dos condicionamentos impostos pela linguagem formalizada (à semelhança de procedimentos de largo uso pelo primitivismo modernista oswaldiano), à profundidade da reflexão estética, na linha de metapoemas que remetem ao "Profissão de fé", de Olavo Bilac. O poema tem a sua espacialidade determinada por uma função: no planejamento do livro, é o portal onde a cidade é nomeada e o projeto de sua constituição, delineado; a planta poética básica que estabelece a natureza e os limites da voz que se revela na cidade. Marca, assim, a existência de uma forma híbrida, de acordo com a poética clássica: a proposição épica transforma-se em carta de intenções líricas.

A primeira parte afirma-se mediante dialogia negativa com uma face da modernidade:


"Não quero meu poema apenas pedra
nem seu avesso explicado
nas mesas de operação".

O substantivo pedra, transformado em sinônimo de poética, é uma clara referência à poesia cabralina, uma das fontes de que o poeta se alimentara no primeiro livro, porém com a qual agora deseja romper.

Benedito Nunes, ao estudar a obra do autor de "O engenheiro", aponta a força exercida sobre ela pelas ideias de Valéry que:

(...) analisam a gênese da linguagem lírica a partir da transmutação dos estados vividos: a criação como ato de pensamento lúcido, que se completa no ato de escrever, ambos dirigidos no sentido do controle racional dos efeitos poéticos contra a interferências do acaso, que a inspiração e o sonho favorecem; o poeta-engenheiro, que calcula a impressão a ser produzida pela sua obra, adquirindo esta 'o caráter de um mecanismo destinado a impressionar um público'; e, ainda, a página em branco, como espaço decisório, também campo de luta contra o acaso(...) (NUNES, 1974, 41-42)


Haroldo de Campos, ainda sobre a mesma composição, afirma:

Em O Engenheiro, a epígrafe de Mallarmé é sustituída por outra, de Le Corbusier ('...machine à emouvoir'), que ambos, poeta e arquiteto, pertencem a uma mesma família espiritual - a dos construtores - , na qual se inserem as melhores admirações de JCMN. O poeta que, em Pedra do sono, exibia ainda as impregnações do alogicismo surrealista, aqui se volta deliberadamente à lógica (não científica, mas poética) do construir. É a instauração, na poesia brasileira, de uma poesia de construção, racionalista e objetiva, contra uma poesia de expressão, subjetiva e irracionalista. Os poemas de O Engenheiro são como que feitos à régua e a esquadro, e sua semântica funda coincidentemente um âmbito plástico de referências. (CAMPOS, 1992, 80-81)


Cacaso afasta-se daquele "tipo de conhecimento que se move no espaço mental de uma racionalidade desincorporada, em que se podem traçar linhas que conjugam pontos, projeções, formas abstratas, vetores de forças" (CALVINO, 2003, 88), representado pela já referida metáfora do cristal na visão de Ítalo Calvino. Fato comprovado na terceira estrofe:

“A sede neste deserto
não me conduz ao mirante, ou antes:
olho selvagem.
A sede ultrapassa a sede onde
renasce o objeto, sua
resposta miragem”.

Novamente surge um contraponto a Cabral. Cacaso dialoga agora com uma concepção estética mais radical do que a de O engenheiro: aquela subjacente à estrutura do poema "Fábula de Anfion", que valoriza a criação sobre o vazio, o branco como positividade da qual surge a construção, a abstração absoluta da poética cabralina desssacralizando a pureza, o primado da objetividade crítica e reflexiva à qual, todavia, não faltam incertezas. Clareza, disciplina e controle fazem parte da modernidade construtiva. É do deserto, da suspensão da história, que a linguagem pode ser concebida como concretamente inaugural, liberta dos condicionamentos da linguagem-arquivo da cidade e sua sintaxe presa à previsibilidade. (FERRAZ, 2003, 81-98)

O paradoxo "véspera de trapezista" x "conduz ao mirante", na verdade, conduz à outra concepção, próxima à da "chama" de Ítalo Calvino. Tal proximidade pode ser comprovada pela existência de uma concepção da criação como um salto, radicalidade do mergulho (para o futuro) na experiência existencial, da projeção da cidade como construção de um "olho selvagem" e como "miragem" constituída pelos objetos que não são frutos, mas a própria "sede", instância em que a razão não elide o mistério.

A última estrofe sintetiza essa ampliação de pedra, resultado de um périplo ao qual todas as dimensões - "dentros e foras" - são incorporadas.

Inúmeros termos são buscados no universo do corpo, da ação física e da medicina "mesas de operação", "olho", "cadáver", "engulo", "agoniza", "vísceras", "morte", "sangue", "antisséptico", "veias", "talhe", "palavra higiênica", "noite orgânica", "fala", "orgasmo", "vagina", "falos", "morrer", "lábio", "morde", "trompa", "útero híbrido", "ossos", "mandíbula", "cadáver", "corpo" - levantamento restrito apenas a essa lição. O vocabulário reconstrói o mapa de uma cidade alegorizada como corpo social a exigir correção e tratamento constantes, onde o vir a ser aflora em um espaço de inabitabilidade, exposto às práticas sociais redutoras da plenitude dos seres e às intervenções necessárias para ajustar o estado de atonia vigente na pólis.

Os outros três poemas da primeira parte - "O poema anfíbio descansa", "Aqui cessa todo périplo" e "Protopoema" - são textos nos quais Cacaso revela suas preocupações com a linguagem póetica.

"Rachados e perdidos", a segunda lição, traz no título a ideia de miscelânea, reunião de dispersos e diversos momentos de apreensão poética do mundo, da qual não está ausente a própria reflexão sobre a criação poética, ao lado de composições que apresentam variações na construção formal e oscilam entre o lírico e o trágico.

O significado do poema inaugural dessa lição, denominado "Praça da luz", brota da relação antitética entre o título e o texto. Aquele aponta para o espaço urbano para o qual convergem elementos diversos, dando-lhe a função de centro regional de determinados territórios urbanos; este surge como resultado da justaposição de imagens que aparentemente só possuem como elemento de ligação o espaço onde circulam. No entanto, todas elas são construídas com marcas de uma flagrante negatividade: "inverno", "namorados sem ritmo". "gengivas conspiram", "abafadas "transações", "um marreco (...) se candidata a senador", "anjinhos (... ) com flâmulas e hemorroidas", "corpos horrendos que se tocam". Mais do que um valor surrealista, as imagens traduzem uma concepção poética expressionista. A luz prometida no título transforma-se em realidade sarcástica, ilumina uma realidade absurda, autêntico desfile de seres condenados ao escuro da irrealização e do desencontro. Empurrados por uma arquitetura que determina a movimentação dos seres na cidade, todos transitam por esse terreno no qual se tornam mais visíveis. O momento de maior exposição, quando todos podem ser notados, é, paradoxalmente, o de maior opacidade. Por isso os indivíduos formam o "espantoso baile dos seres", um balé de simulacros, no qual a comunicação reduz-se à conspiração, à transação abafada, ao proselitismo e a gargalhada fere fundo não só os "corpos horrendo que se tocam", como também as almas que afastam a possibilidade de luz ao apagarem qualquer gesto de compreensão e afeto.

No poema denominado "Política literária", localizado na segunda lição, Cacaso irpmoza a luta travada entre as vanguardas pós-modernistas para ver qual a corrente poética era a autêntica representante do projeto mais radical da modernidade.

“O poeta concreto
discute com o poeta processo
qual deles é capaz de bater o poeta abstrato.

Enquanto isso o poeta abstrato
tira meleca do nariz”. (CACASO, 2002, 149)

Trata-se de uma forma parodística calcada no poema de título homônimo, publicado em Alguma poesia, livro de estréia de Carlos Drummond de Andrade.

“O poeta municipal
discute com o poeta estadual
qual deles é capaz de bater o poeta federal.

Enquanto isso o poeta federal
tira ouro do nariz”. (ANDRADE, 1973, 11)

Argan, ao discutir as relações entre cidade ideal e cidade real, afirma que "não é certamente a lógica da história, mas a desordem dos eventos que se reflete na realidade urbana herdada do passado". (ARGAN, 1995, 75) Também na poética de Cacaso pode ser verificada a presença do passado como uma desordem contraposta às tentativas de ordenamento intentadas por diversas correntes.

O poema de Drummond retrata a política literária no contexto da Primeira República. Flagra uma hierarquia cultural correlata à hierarquia político-administrativa, organizada em função de um espaço social rigidamente demarcado numa direção ascendente. O prestígio poético, por essa visão, fornecia um meio de ascensão no universo cultural e este, por tabela, permitia galgar posições socialmente.

No poema de Cacaso, a estrutura do poema drummondiano é mantida intacta. As duas estrofes perrmanecem com o mesmo número de versos, a mesma sintaxe, a mesma organização interna. As mudanças ocorrem apenas na troca de palavras que indicam uma nova realidade: aquela criada pela ditatura militar. Na verdade, é o contexto que institui a diferença. Não há mais uma cadeia evolutiva, uma linha de progressão. A realidade cultural e social foi modificada. Surgem as vanguardas literárias disputando com todas as armas a respeitabilidade e a representatividade conquistadas, outrora, pelo "poeta federal". Infensa à cultura, nenhum poeta poderá tirar ouro da nova realidade. Razão pela qual Cacaso recorre a um processo de infantilização - a linguagem coprológica ("tira meleca do nariz") - como forma de denunciar o hiato entre a cidade e a atribuição de prestígio e visibilidade aos poetas.

Os poemas "Romance", "A verdadeira versão" e "Epopéia" revelam um Cacaso lírico, antecipando a concepção amorosa expressa em Beijo na boca. "As batalhas" é uma composição de cunha autobiográfico, centrada na figura do pai. "O futuro chegou" é um forma dialogal sobre impasse e suicídio.

A terceira 'lição' - "Dever de casa" – volta-se para os aspectos econômicos, históricos, políticos e sociais da realidade brasileira. A reescrita de um elemento do universo escolar convencional, o dever de casa, com a transformação da 'casa' em 'caça', reforça o caráter de denúncia à anulação do indivíduo que pensava diferente (ou simplesmente pensava), criava, tentava exercer sua autonomia artística, política e social, em ser perigoso, sujeito à caça e ao abate por parte dos guardiães da cidade.

O primeiro poema dessa parte - "O que é o que é" - é organizado como uma adivinha. Apesar de revelar influência direta de Oswald de Andrade, especialmente daqueles poemas que fizeram uma releitura crítica da nossa história, a composição, construída como crítica ao modelo econômico adotado pelo governo militar, parece datada. "Logias e analogias", com suas rimas em -al, subsiste também mais como denúncia à mercantilização da medicina do que como texto de ponta. "Reflexo condicionado" e "Pré-história contemporânea..." são poemas de crítica corrosiva, ideologicamente marcados, mas que figuram redutoramente no campo do trocadilho literário. No entanto, em 'Sinais do progresso" e "As aparências revelam" surge novamente um poeta antenado com as questões de seu tempo, capaz de explorá-las em uma linguagem carregada de significado. O poema "Jogos florais", o mais relevante dessa lição, será estudado em outro momento.

A 'lição" final – "A vida passada a limbo" – tem como tema a própria vida, flagrada em flashes reveladores de um universo mais íntimo e pessoal. Apresenta na última composição, que dá título ao livro, a reafirmação da poesia como forma de sobrevivência "nestes tempos de alquimia".

A exemplo do que ocorre nas lições anteriores, na última parte podem ser localizados aqueles elementos vistos por Cacaso na poesia de Chacal; "os germes da atitude revolucionária diante da cultura: esta deixa de ser tratada como fetiche, como algo apartado e alheio à vida, para recuperar seu posto e significado na continuidade viva da experiência social" (CACASO, 1997, 25).

Além de "Grupo escolar", os poemas "Cinema mudo", "Trago comigo um retrato" e "Logia e mitologia" também são analisados em outro capítulo. Os demais textos integrantes da parte final - "Até agora", "Imagens", "História natural", "Diário de bordo" e "Reencontro" - mantêm a qualidade dos demais, exceto "Até agora", cujo componente autobiográfico vem em uma roupagem linguística destituída de recursos, incapaz de transformar o prosaísmo intencional do poema em linguagem poética, e formam um sensível universo subjetivo, permeado por referências ao filho, ao plano familiar e à memória amorosa.

NOTA

(1) As informações sobre a formação dos grupos formadores da denominada poesia marginal, suas atividades e o contexto no qual medraram foram levantadas nos trabalhos de Carlos Alberto Messeder Pereira, Retratos de época: poesia marginal anos 70, ainda hoje o melhor levantamento sobre esse tema, e de Heloísa Buarque de Hollanda, Impressões de viagem: cpc, vanguarda e desbunde: 1960/70, particularmente o capítulo 3 - "O espanto com a biotônica vitalidade dos 70".


Referências

ANDRADE, Carlos Drummond de. Reunião (10 livros de poesia). 5a. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973.
ANDRADE, Oswald de. Poesias reunidas. São Paulo: Círculo do Livro, 1976.
ARGAN, Giulio Carlo. História da arte como história da cidade. 3a. ed.
São Paulo: Martins Fontes, 1995.
CACASO. Lero-lero. Rio de Janeiro: 7 Letras; São Paulo: Cosac & Naify, 2002.
CACASO. Não quero prosa. Campinas-SP, Unicamp: Rio de Janeiro, UFRJ, 1997.
CAMPOS, Haroldo de. Metalinguagem e outras metas: ensaios de teoria e crítica literária. 4ª ed. São Paulo: Perspectiva, 1992.
CALVINO, Ítalo. Seis propostas para o próximo milênio. 3ª. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
HOLLANDA, Heloísa Buarque de. Impressões d e viagem: cpc, vanguarda e
desbunde: 1960/70. Rio de Janeiro: Brasiliense, 1980.
FERRAZ, Eucanaã. Anfion, arquiteto. In: Colóquio - Letras; Paisagem tipográfica, no.
157-158, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2003.
MERQUIOR, José Guilherme. Musa morena moça: notas sobre a nova poesia
brasileira. In: Poesia Brasileira Hoje. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, l975.
NUNES, Benedito. João Cabral de Melo Neto. 2ª ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 1974.
PEREIRA, Carlos Alberto Messeder. Retratos de época: poesia marginal anos 70
Rio de Janeiro: FUNARTE, 1981.



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